sábado, 30 de março de 2013

Verdadeiramente Páscoa

      (para Valentina)
   
Walnize Carvalho
 
  Chegou à minha casa como um presente. Presente oportuno, já que veio em pleno período da Quaresma, dando oportunidade de refletir sobre a vida nova - a Páscoa - que se aproximava. Aparentava ser de tenra idade.
 Era frágil, silenciosa, dócil, ainda que um pouco assustada.
De pele alvinha, trazia no pescoço um laçarote lilás fazendo com que a neta, em estado de tremenda euforia, exclamasse: _Que fofa!... E Fofa passou a ser o seu nome.
  As primeiras providências foram tomadas para a hóspede: um cantinho aconchegante para se instalar, água, alimentação e até brinquedo...
Em todas as manhãs, desde a sua chegada, a menininha - como boa anfitriã - a levava para dar um passeio pelo pequeno quintal, pela varanda e próximo à jardineira, que fica na frente da casa.
Sempre com o devido cuidado de manter o portão fechado, para que a “amiga” em seus saltitos, não ganhasse a rua, pois bem sabia(o pai a alertara), que ela não conseguiria se defender, caso um gato ou cachorro dela se aproximassem.
  Percebia-se que adorava passar aquele tempo: solta, brincando e pulando .
A menina se divertia em ficar olhando suas proezas e, vez por outra, lhe oferecia colo, mas ela tratava logo de se esquivar, pois gostava de sua liberdade...
Assim, as manhãs tornaram-se prazerosas, já que propiciavam à menina, exposição diária ao sol e contato permanente com a natureza ...
Na hora da refeição era uma festa!
A garota fazia questão de ajudar no preparo do alimento: cenoura (o prato preferido), brócolis, chicória, couve, alface e como complemento, fatias de maçã ou de banana.
Também não deixava faltar ração, que contém fibras, proteínas e cálcio e mantém a dieta equilibrada. Tudo isso veio estimular à garota a se alimentar de forma mais saudável, passando a ter no seu cardápio frutas e legumes regularmente...
Impressionante como aquela presença miúda e singela veio mobilizar, não só a criança da casa, como os adultos também.
 Ela virou motivo de conversas à mesa ( há quanto tempo a família se reunia às refeições?) ; de disputa saudável (-Quem acordar primeiro vai ajeitar seu cantinho!) e outros gestos fraternos!...
Os dias passando e ela, ao que parece, veio para ficar.
 E que bom, pois por causa dela, ficaram em segundo plano as “obrigações” materiais de presentes caros e de consumo exagerado de chocolates .
Agora é hora de “sair da toca” e identificar quem chegou à minha casa como um presente: uma coelhinha.
Reitero, de forma oportuna, pois além ser um dos símbolos mais marcantes da Páscoa, trouxe consigo Alegria, Renovação de hábitos, Harmonia e Nova vida a todos da casa, que passaram a tê-la como companhia...

sábado, 9 de março de 2013

Uma rosa em segredo


Walnize Carvalho

A mulher passava pela rua quando deparou com uma manifestação popular. Bem diferente de gritos exaltados havia cantoria que se misturava com orações, palavras afetuosas e...distribuição de rosas.
Rosas vermelhas.
Timidamente, aproximou-se do grupo e se deu conta que se tratava da comemoração do “Dia internacional da Mulher”.
Ficou por ali calada e emocionada quando um dos manifestantes aproximou-se dela e lhe entregou uma rosa.
Rosa vermelha.
Ruborizada, mas feliz fez o trajeto de casa carregando o mimo nas mãos como quem carrega algo precioso e frágil.
 E era frágil.
 Era uma rosa.
 Uma rosa vermelha.
 E era preciosa, pois não se recorda dia algum em que levava em mãos oferta tão significativa. Visivelmente envaidecida, aspirava de minuto a minuto o belo presente.
Quase chegando à casa, uma dúvida misturada com angústia povoaram seu pensamento: Como abrir a porta da sala e deparar com seu marido ( que por certo estaria lendo os jornais) com a rosa vermelha vistosa e perfumada, sem que ele a olhasse com espanto e a enchesse de perguntas quebrando todo o encantamento?
Preferiu entrar pela portas dos fundos e no quartinho dos fundos acomodou “sua menina” no primeiro recipiente que encontrou.
Buscou água para regá-la e dia após dia cumpria o prazeroso ritual de ir visitá-la para inebriar-se com o seu perfume...
Até que ,numa manhã, o marido anunciou viagem de negócios.
A mulher correu a um só fôlego para o cômodo onde trazia prisioneira, a rosa.
A rosa vermelha.
Planejava colocá-la numa jarra bem bonita no centro da mesa da sala onde ela iria, afinal, exalar sua fragrância reinando absoluta sem pudor e questionamento.
O que encontrou foi sua rosa desfalecida, despetalada .
Com lágrima nos olhos recolheu as pétalas já não mais vermelhas (em tom rubi )e levemente ressecadas, mas que ainda exalava um pouco do perfume do “primeiro encontro”.
Buscou um livro na estante e nele depositou as fragmentos de ternura.