sábado, 26 de novembro de 2011

Tem que ser


Walnize Carvalho

Tem que ser
obediente
complacente
convincente

Tem que ser
crítica
apolítica
dogmática

Tem que ser
humorista
otimista
altruísta

Tem que ser
guerreira
pioneira
alvissareira

Tem que ser
antenada
plugada
conectada

Ah!
sociedade
controladora
dominadora
castradora

Sou
um
SER QUE TEM
despojamento
sentimento
e
no pensamento
uma enorme vontade de acertar ...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Esperança na Arte



Walnize Carvalho

Sempre acreditei que a ARTE (assim como diz a letra de Caetano Veloso em “Desde que o samba é samba”) tem “o grande poder transformador”.
Somente ela revestida em música, pintura, dança, teatro... e – principalmente – em literatura consegue dar nova forma e sentido à vida.
Vez por outra, lê-se registros desta constatação – e, porque não dizer, inquietação – de articulistas, poetas, cronistas, e dos que lidam em geral com a palavra.
Bem se sabe que ela não atua como efeito bumerangue (bate e volta aos que escrevem), mas que corre como flecha ligeira em busca de corações desprotegidos.
Daí a importância de que a literatura tenha sempre um “palco” para se apresentar e de “platéia” que possa interagir com ela.
Por aqui se vê entidades, instituições, fundações, academias de letras, cafés literários, casas de cultura, salas de espetáculos, vários espaços em que ela “abre-alas e pede passagem” e encontra reciprocidade.
Mas... há de se querer mais!
Que ela visite mais escolas, universidades, blogs, canais de tevê, emissoras de rádio...
Particularmente, não tenho o que reclamar, pois (sem vaidade) aqui estou com meus textos que transitam livremente
É necessário que ela (mais uma vez, a literatura) faça piquete nas portas dos bancos; se infiltre em filas intermináveis de espera.
Seja sorvida entre bebidinhas e conversinhas nos points da cidade.
Torne leitura em ante-salas de consultórios médicos, odontológicos e de profissionais liberais substituindo, talvez, revistas de moda e de fofocas de artistas.
Que ela saia em passeatas pelas ruas sendo panfletada entre vendedores, comerciantes, consumidores, anônimos e curiosos.
Bata ponto nas rodas de café e seja assunto interessante entre grandes negócios feitos nas manhãs do Boulevard.
Brinque nas praças; visite presídios, orfanatos, templos e asilos. Que seja estampada em outdoors nas nossas esquinas.
Sem utopia. Dia virá em que “a arte de compor trabalhos artísticos em prosa e verso” – a literatura – será servida como prato principal aos que são famintos de transformação.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

História em quadrinhos


Walnize Carvalho
Manhã de sábado.
Ida ao shopping.
Entre pessoas apressadas, curiosas, mal-humoradas, com sacolas, com crianças, cenhos fechados, observadoras, casais de namorados... Ela passa, a mulher.
Observa o olhar faminto. Uns com fome de guloseimas, outros de consumos materiais.
E como o lugar é propício para diversão, lazer e prazer, flagra sorrisos de felicidade: da moça no balcão da loja olhando as fotos reveladas; da jovem na livraria recebendo um livro de presente; da menina comprando sorvete de três sabores; da senhora pesando na balança da farmácia.
E mais a alegria estampada no senhor sorvendo vagarosamente o café expresso; do menino jogando videogame; do rapaz assistindo esporte na tevê da loja; do idoso conferindo a tabela de promoção de remédios...
Continua andando.
Um “flash” a faz parar. Uma pessoa a observa.
Está diante de um espelho. A mulher e a escritora frente a frente completam os personagens da história em quadrinhos de uma revista diária.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Maria Alice e a morte

Maria Alice é a minha amiga mais próxima. Digo que nos conhecemos desde sempre. Tem uma rabugice única, um bom coração e é a mais passional das criaturas, o que pode ser muito ruim ou muito bom.

Minha amiga tem teorias singulares sobre várias coisas, a teoria sobre a morte e os fatos que a envolvem são de fazer rir.

Odeio gente que não sabe se comportar em velório. Velório é lugar de dor e não de contar piadas “para fazer esquecer o sofrimento” como os engraçadinhos inconvenientes apregoam.
Velório não é lugar para roupas coloridas, nem lugar para decotes. Eu já avisei: quem aparecer vestida de maneira inadequada no meu velório vai arcar com as consequências. Eu volto para puxar o pé na mesma noite.
Acho tão bonito uma viúva de luto. Hoje em dia esqueceram o luto. Acho o luto fundamental para a saúde emocional. Ele tem sua razão de ser. É momento de chorar, de coração dorido. Quem não vive o luto paga o preço em algum momento. E para isso um pretinho básico ajuda muito.
Detesto escândalo em velório. Choro verdadeiro não é escandaloso. Desmaios também me irritam. Quem sofre de verdade, chora, chora sem som, abraça os amigos, molha o rosto sempre que sente um nó na garganta. Gente que ameaça se jogar no túmulo para mim é sem educação e falsa. Quem sofre, apenas chora, chora muito. Se usar óculos escuros fica sem dúvida um choro beirando á perfeição.
Gosto de véus negros, pena que hoje quase ninguém usa chapéus com véu então... No velório do meu marido ameacei usar um chapéu, fui demovida da idéia. Usei meu véu negro e um terço. Chorei muito. Gosto de chorar.
Usei um mês de luto fechado e outros tantos de luto menos rigoroso. Vivi minha dor. Sobrevivi.

Essa é apenas a primeira das histórias da minha amiga, vou contar sempre que der vontade. Seu nome foi trocado por razões óbvias.