sexta-feira, 30 de abril de 2010

Trova


Walnize Carvalho


Meus olhos são como boca
Minha boca um par de olhos
São pontes da vida louca
Deste meu mar de abrolhos

quarta-feira, 28 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Felicidade

Acordou

Abriu a janela

E saltou

Para o azul do dia

Vitoriosa


Walnize Carvalho

Sou vitoriosa

Quando choro

Quando coro

Quando rio

Quando crio

Quando creio

Sou vitoriosa

Quando mudo

Quando estudo

Quando aprendo

Ou me rendo

Sou vitoriosa

Quando troco de calçado

Ou de calçada

Troco de Estado

De estado civil

E nem ligo

Quando dizem

“ — Onde já se viu?”

Sou vitoriosa

Quando digo: NÃO!

Quando digo: SIM!

Sou vitoriosa

Quando

amo a MIM...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Na retina dos meus olhos


Walnize Carvalho


Na retina dos meus olhos
habitam
límpido céu
plácido lago
mar azul.

Na retina dos meus olhos
desfilam
crianças saltitantes
pessoas hesitantes
sem norte sem sul.

Na retina dos meus olhos
pairam
rios poluídos
prédios demolidos
lágrimas de dor e sal.

Na retina dos meus olhos
fixam
COTIDIANAMENTE
Alegria
Sofrimento
Paz
Encantamento
O Bem e o Mal.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

"Mas eis que chega a roda viva..."


Roda Viva

Walnize Carvalho

Na banca de revistas,
Grupo de homens
Filando
Leitura de jornais.

No umbral da janela,
Roda de pássaros
Disputando
Farelos de pão.

Na porta da igreja,
Cacho de velhinhas
Rezando
Oração matinal

No meio da praça
Conjunto de transeuntes
Ouvindo
Pregação do vendedor.

Na frente da escola
Penca de estudantes
Concorrendo
Vagas de ensino.

Na entrada da repartição,
Aglomerado de rapazes
Pleiteando
Emprego definitivo.

No azul do céu,
Enorme círculo dourado
Iluminando
A roda viva da cidade.

domingo, 4 de abril de 2010

Novamente



(*) Walnize Carvalho

O Valor das Palavras
O enorme valor do prefixo RE.
Em tempo de RESSURREIÇÃO, vale REFLETIR. Que tal?

REcitar um poema?
REdescobrir um caminho?
REatar uma amizade?
REver um amigo?

REalçar um sorriso?
REacender uma paixão?
REcontar uma história?
REconquistar um afeto?

REpensar a solidão?
REler um bom livro?
REciclar uma idéia?
RElembrar a infância?

REfazer um trajeto?
REtribuir um gesto?
REaprender com o idoso?
REviver uma emoção?

REencontrar a si mesmo...

“REinventar a VIDA?”

sábado, 3 de abril de 2010

História da princesa moura e do dragão azul


História da princesa moura e do dragão azul, (in Textos e cartas de Pedro Paixão a Helena Águas 1985-1986)

Esta é a história de uma princesa moura das terras quentes do sul
e de um dragão azul - que era afinal um príncipe
das terras altas do norte

Andava a princesa desaustinada, numa noite de temporal
e absolut vodka, num reino que ficava equidistante.
(Ela não sabia do que andava à procura.)
Entrou na sua carruagem puxada por noventa cavalos e tinha apenas percorrido alguns metros quando se lhe atravessou no caminho um jovem dragão azul com figura de príncipe, molhado como um pinto por causa da chuva que caía muito forte. Ela parou, baixou o vidro da carruagem, e ele quis saber que música vinha ela a ouvir e para onde ia ela àquela hora da madrugada.

Logo aí a moura percebeu que era um dragão azul das terras altas do norte que lhe falava a sorrir, e foi sem ela se dar conta que ele a raptou, convidando-a para sua casa...
Ainda se perderam, porque o belo dragão ainda não sabia de cor o caminho de casa.
Mas a princesa deixou-se levar até ao castelo, feliz por acreditar que o dragão não lhe iria fazer mal - quem sabe seria um príncipe? (Parecia mesmo um príncipe que ela já tinha visto num filme!...)

Encontraram-se numa noite de temporal
entre o norte e o sul
e foi ela que o guiou
sem saber que estava a ser raptada

Quando chegaram ao castelo o príncipe abriu a porta devagar e entraram os dois pé ante pé, pois todos se encontravam já a dormir.
Os aposentos continuavam mergulhados na penumbra da madrugada e a princesa moura ficou a saber que no castelo não havia luz nem água, e por isso foi preciso acender uma vela.
Conversaram de música e cinema durante um bocadinho, mas o dragão dentro do príncipe começou a beijar a moura, que estava cheia de medo.
(Não é todos os dias que uma moura é raptada por um dragão azul das terras altas do norte!...)
E cheia de medo ela se foi entregando devagarinho até deixar de ser princesa, para se transformar numa sereia nos braços do belo príncipe...
Abraçaram-se muito, beijaram-se muito, mas ela temia que o dragão fosse apenas mais um sapo, e lá se ia protegendo como podia, dando muito mas não tudo.
Queria sossegá-lo, ao príncipe, mas o dragão não queria sossegar...

E foi preciso muito carinho e ternura e paciência para adormecer o príncipe e o dragão dentro dele...

Depois a sereia procurou peça a peça as suas roupas espalhadas pelo chão e foi-se vestindo devagar e sem barulho, para não o acordar.
Ela apagou a vela, tapou o príncipe adormecido e beijou-o docemente na face. Ele sorriu, sem abrir os olhos.
E a moura disse "Até logo".
Encantada.

L.A.
Coimbra, 1998

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Deixa-me amar-te




Quadro: Closer hearts, de Hessam Abrishami

Deixa-me amar-te, de Fernanda Guimarães

Deixa-me amar-te em meus silêncios
Na calmaria do teu coração que me acolhe
E de onde se desprendem meus sonhos
Em vôos etéreos de plena liberdade
Deixa-me amar-te em minha solidão
Ainda que meus labirintos te confundam
E que teus fios generosos de compreensão
Emaranhem-se no tapete dos meus enigmas
Deixa-me amar-te sem qualqu...er explicação
Na ternura das tuas mãos que me sorriem
Escrevendo desejos em versos despidos
Na minha alva tez que te cobre e descobre
Deixa-me amar-te em meus segredos
Para que desvendes o que também desconheço
A alma dos meus abismos onde anoiteço
E meus olhos adormecem embalados pelo mistério
Deixa-me amar-te em tuas demoras, longas horas
Em que meu corpo se veste de céu à tua espera
E minhas mãos em frenesim acendem estrelas
Para alumiar-te, ainda que ausente estejas…