sábado, 31 de dezembro de 2011

FELIZ ANO... de novo


Walnize Carvalho

De novo, a falsa euforia...
De novo, o engarrafamento...
nas ruas
nas mesas
Alegria?!

De novo, o vestido branco.
De novo, papéis picados do Banco.

De novo, tilintar das taças.
De novo, o riso de graça.

De novo, praia cheia
- oferendas na areia.
De novo, o comer de uvas, lentilhas.
De novo, catador de latas vazias.

De novo....
De novo...
Novamente
A espera por bonança.
A E S P E R A N Ç A.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Visita natalina

Walnize Carvalho
Manhã de vinte e cinco de dezembro.
A menina não foi a primeira a se levantar, como de costume. Nem tão pouco a que procurou bem cedo seu presente no sapatinho ao lado da cama.
A mãe estranhou. Veio olhar. A garota ainda dormia.
Observou, que estava toda encolhidinha no canto da cama. Parecia sentir frio. - Como, se era verão?!...balbuciou, a zelosa senhora.
O instinto materno acusou, que provavelmente sonhava e que derramava um leve sorriso no canto dos lábios. Viu que os olhinhos andavam. Tremiam. Coisa própria de criança entregue ao sono.
As irmãs já haviam aberto seus presentes e nas poucas vezes em que podiam ir à rua – rua que passava o bonde bem rente a calçada - ( e a ocasião do Natal era uma delas) se preparavam para mostrar às colegas da vizinhança suas novas bonecas. Geralmente eram bonecas.
E ela, Nani... Nani? Nani era seu nome, porque demorava a se levantar, pois se foi a primeira a se deitar na véspera, tamanha a ansiedade pela chegada do Papai Noel?...
A menina acordou. Com ares de felicidade revelou aos pais, que naquela noite viu quando o Bom Velhinho chegou. Estava muito cansado, quando dela se aproximou. Aos pés de sua cama, sussurrou-lhe para que as irmãs não ouvissem: - Menininha, não conta para ninguém! Posso descansar aqui um pouquinho?
Ela permitiu. Encolheu-se para o canto e deixou que ele repousasse... Findo o mistério.

Olha, amados leitores! Talvez para uns, a história esteja incompleta; talvez para outros, Papai Noel não exista; talvez para alguns, o “sonho não acabou”e ,talvez para muitos esta singela historinha tenha servido de reflexão e saudade, da época da inocência ,a que nos transportam remotos natais.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Trajetória



Walnize Carvalho

De repente, formou-se um brilho –um fulgor.
E,aos poucos,daquele claridade algo nasceu.Algo brotou
Va- ga- ro – sa- men – te.
E ,de repente,
Foi crescendo...crescendo...se evoluindo
E, de travessa saiu correndo...correndo
Descendo medrosamente,
Escorregando rapidamente
Como se quisesse desabafar.
Como se quisesse gritar
Ou mesmo se encontrar
Fugir
E nessa trajetória
Continuou a correr.
Até que
Repentinamente
Caiu
Morreu
Desabafou
Se encontrou!...

Este foi o fim de uma lágrima teimosa que brotou de um olhar triste.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Travessura de mãe


Walnize Carvalho

A mulher percebeu do seu quarto que do cômodo ao lado vinha uma claridade. Caminhou até a sala.
Olhou com olhos preguiçosos de abrir, o relógio na parede: duas horas.
Atravessou o corredor.
A luminosidade que filtrava em toda casa vinha do quarto dos filhos.
Espiou, discretamente, pela abertura da porta.
Estavam dormindo. Janela aberta. O frescor da madrugada sobre suas faces.
Eles ali dormindo, displicentemente.
Ela os olhou com ternura.
Apagou a luz do abajur. Desligou o som.
De volta à sala procurou na estante o livro “Tantas Vozes” de Ferreira Gullar . Encontrou o poema “Filhos”.(*)
Enxugou a lágrima teimosa e, numa atitude pueril, buscou no fundo da gaveta do armário da cozinha uma lanterna.
Sorrateiramente entrou no quarto. Munida de luz e caneta “pilot” transcreveu os versos na porta clara.
Escreveu. Riu. Segurou a emoção para não escapar nem um ruído que fizesse os meninos acordarem .
Acabando o poema, suspirou pensando : como é bom se criança. Ser mãe. Ter os filhos que eu tenho!
Perdão filhos! Por ter brigado tantas vezes pelas garatujas que fizeram em criança!
Filhos
Ferreira Gullar

“ Daqui escutei
quando eles
chegaram rindo
e correndo
entraram
na sala
e logo
invadiram também
o escritório
(onde eu trabalhava)
num alvoroço
e rindo e correndo
se foram
com sua alegria
se foram
Só então
me perguntei
por que
não lhes dera
maior
atenção
se há tantos
e tantos
anos
não os via crianças
já que
agora
estão os três
com mais
de trinta anos.”