sexta-feira, 25 de março de 2011

Gata Borralheira às avessas


Walnize Carvalho
Abriu os olhos para o dia e diante deles passou um letreiro luminoso: A VIDA É UM TEATRO.
Enquanto caminhava para a mesa do café da manhã, a mulher se dava a filosofar ... A vida é um teatro ... Mais do que sinônimo de representação cênica, mundo ilusório, vida fictícia, o que não é o teatro senão a própria vida encenada no palco?
Nele temos vários papéis a desempenhar no dia-a-dia. E, se possível, com prazer e autenticidade – meditava.
Naquela manhã de outono, com ares de verão, sentiu que começara bem o seu dia.
A mulher se deu a tarefa de remexer guardados, faxinar cantos, cuidar de forma mais ordenada dos afazeres domésticos.
Seguia, distraída, com música suave a lhe fazer companhia, desempenhando o referido papel. Papel este que não exigia da “atriz” nenhum ensaio e nem texto bem estudado. Bastava apenas disponibilidade, energia e disciplina.
E com a atividade quase por cumprir lembrou-se que estava atrasada para um compromisso.
Trocou apressadamente de roupa e saiu à rua.
Corria pelo caminho, levada pela brisa da manhã deslizando lépida e feliz por entre carros, pessoas, árvores e calçadas.
Como em um conto de fadas, em sua mente havia um relógio imaginário que a qualquer momento iria “badalar as doze horas, fazê-la perder o sapatinho de cristal nas escadarias e transformá-la em outro figurante” ...
Assim, a mulher, cheia de encantamento e alegria chegou a tempo de participar de mais um encontro literário e desempenhar no “teatro da vida”, mais um personagem: o de POETA.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Jogos da vida



Walnize Carvalho

“Jogando e aprendendo a jogar/nem sempre ganhando/nem sempre perdendo/mas aprendendo a jogar!...”

Nos jogos da vida
baralhar
escolher
arriscar
recuar
ir em frente
dar um passo atrás
lutar
resignar
aceitar
chorar
rir
renunciar
aprisionar
libertar.
Jogar com determinação.
Manejar
com destreza as adversidades.
Sentir firmeza nas decisões tomadas.
Evitar a qualquer preço
fazer ping pong dos sentimentos alheios.
Não promover “quebra de braço” entre egos inflados.
Na hora do xeque-mate
esquecer vencedor e vencido.
Nas batalhas do dia a dia
munir-se de muito jogo de cintura.
Na vitória
ou nas derrota
se certificar de ter jogado limpo.
Estar consciente
que o exercício de viver o livre arbítrio é peça chave que nos move.
E assim...
conseguimos
expressar
aprender
ensinar
e descobrir que
a coragem
é a carta que trazemos na manga do paletó.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ressaca


Walnize Carvalho

Hic! Um soluço interminável, um peso enorme na cabeça (como se pousasse sobre ela um elefante), um gosto amargo na boca – gosto de cabo de guarda-chuva, dizem alguns -, náusea, mal estar, “estômago embrulhado” e o olhar distante fixado em lugar algum.
Sabem de quem estou falando? Da famosa ressaca que, principalmente, nos últimos dias (dias que sucedem ao carnaval) a muitos abate.
Estranhamente reconheço que tenho quase todos os sintomas citados, embora não ingira bebida alcoólica nem tão pouco tenha participado da festa.
Sou tomada de uma leve prostração, de desalento, de incômodo, e com o olhar distante fixado em lugar algum constato que também estou de ressaca, mas de uma ressaca atípica. Sinto no ar o esgotamento de valores duradouros e autênticos, uma falsa euforia, uma vontade de que a fantasia não desbote e a que máscara fixe no rosto e não descole tão cedo.
Há o cansaço do “ser eu mesmo” e o desejo de que o personagem construído assuma o papel principal.
Neste estado letárgico não há receitas caseiras do tipo: muita água de coco, sal de frutas, banho de mar e até os conselhos de “tomar mais uma”, um engov antes outro depois que irão modificar o quadro. E nem tão pouco a ressaca não alcoólica (que é o meu sintoma) vá se desfazer com vãs filosofias.
No mais, é esperar que ela se dilua por si mesma. E que ao fim de alguns dias se possa abrir o armário, pendurar a fantasia e buscar vestimentas adornadas de bom senso, otimismo, sobriedade e esperança.
Assim vestida, finalmente, dar início à caminhada do ano novo que nos espera.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Outros Carnavais


Walnize Carvalho .

Nesta crônica de hoje vou embarcar no saudosismo...Saudosismo sim! E por que não?
Temos tendência a rotular de saudosista a pessoa velha, ultrapassada, insatisfeita ( quase sempre com o presente) e que insiste em querer viver no passado.
E há quem diga até que “quem vive do passado é museu”...
Creio que (retomando a idéia inicial) saudoso é quem denota saudade e – convenhamos – que privilégio ser tomado por este sentimento (saudade) que, além de ser um belo estado de espírito, é palavra que só existe na língua portuguesa!...
Mas, vamos lá!
Hoje é tempo de carnaval. Com ou sem fantasia ; animado ou indiferente não há como deixar de saber notícias dele...
Em tempo de boas lembranças me vêm à mente outros carnavais: os que vivi e os que ouvi contar... Tempo de corso nas ruas, fantasias, blocos, cordões, clubes sociais apinhados de pessoas descontraídas e felizes.(será que alguém se lembra – como eu - da expressão “tríduo momesco”?)
Em idos de 58 ( pesquisei no ‘ Campos depois do Centenário “ vol. 2 – Waldir Carvalho) consta que : “ Na segunda feira gorda desfilaram os blocos “ Felisminda minha Nega “ , “ O Prazer das Morenas “ como os ranchos “As Magnólias “ e “ Chuveiro de Prata“ .A animação dos bailes ficava por conta dos Plutões , Saldanha e Automóvel Clube Na boca de todos, em qualquer canto da cidade (nos clubes ou nas ruas) as marchas-rancho se tornavam hino.
A cada ano ,com tempo de antecedência aprendíamos as músicas que seriam tocadas e cantadas a exaustão.Exaustão? E quem demonstrava cansaço, ainda que ele se fizesse presente?
Quantas gerações conhecem e cantam até os nossos dias: “Bandeira branca”, “Jardineira”, “Cabeleira do Zezé”, “Colombina”, “Mamãe eu quero” e tantos outros sucessos!
É prova inconteste que o que é bom perpetua e feliz de quem não tem culpa de gostar do que é bom!
Havia no ar uma expectativa com a chegada do carnaval desde a compra de fantasias a ingressos para os bailes nos clubes, como também gerava ansiedade poder ir às ruas ver ou participar dos desfiles populares.
Tudo girava em torno da alegria garantida nos “três dias de folia”.
E quando estes chegavam... não havia quem não fizesse valer os versos da canção: “Deixei a tristeza lá fora/ mandei a saudade esperar/ hoje eu não quero sofrer/ quem quiser que sofra em meu lugar”.
Mas... sem nostalgia: são outros carnavais!