sexta-feira, 11 de março de 2011
Ressaca
Walnize Carvalho
Hic! Um soluço interminável, um peso enorme na cabeça (como se pousasse sobre ela um elefante), um gosto amargo na boca – gosto de cabo de guarda-chuva, dizem alguns -, náusea, mal estar, “estômago embrulhado” e o olhar distante fixado em lugar algum.
Sabem de quem estou falando? Da famosa ressaca que, principalmente, nos últimos dias (dias que sucedem ao carnaval) a muitos abate.
Estranhamente reconheço que tenho quase todos os sintomas citados, embora não ingira bebida alcoólica nem tão pouco tenha participado da festa.
Sou tomada de uma leve prostração, de desalento, de incômodo, e com o olhar distante fixado em lugar algum constato que também estou de ressaca, mas de uma ressaca atípica. Sinto no ar o esgotamento de valores duradouros e autênticos, uma falsa euforia, uma vontade de que a fantasia não desbote e a que máscara fixe no rosto e não descole tão cedo.
Há o cansaço do “ser eu mesmo” e o desejo de que o personagem construído assuma o papel principal.
Neste estado letárgico não há receitas caseiras do tipo: muita água de coco, sal de frutas, banho de mar e até os conselhos de “tomar mais uma”, um engov antes outro depois que irão modificar o quadro. E nem tão pouco a ressaca não alcoólica (que é o meu sintoma) vá se desfazer com vãs filosofias.
No mais, é esperar que ela se dilua por si mesma. E que ao fim de alguns dias se possa abrir o armário, pendurar a fantasia e buscar vestimentas adornadas de bom senso, otimismo, sobriedade e esperança.
Assim vestida, finalmente, dar início à caminhada do ano novo que nos espera.
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2 comentários:
Gostei.
Pela ideia e pela fluidez das palavras desaguando num texto interessante.
Caro João Videira,
Obrigada pela visita ao blog e pela cumplicidade no texto.
Walnize
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