sexta-feira, 26 de março de 2010

Paz, explosões, inquietude...



Walzize Carvalho

Explosões silenciosas

Céu estrelado em noite de luar

Arco-íris em fim de tarde

Flores em beira de estrada asfaltada

Marolas em rio vistas da ponte

Pássaros em fios elétricos de postes.

Lágrima em olhar de mãe saudosa


Paz inquieta


O grito de um

filho

chegando de viagem

no portão de casa.

-Mãe!Já cheguei!

Os pingos da chuva

Na janela do quarto

Na manhãzinha.

Correria dos meninos atrás

da bola na rua

vazia.

Rádio ligado na

“Ave Maria” do

solitário ouvinte

no estacionamento

de carros.

Cantarolar de

minhas netas

de músicas de antigamente.

Arrastar de

Cadeiras para

Almoços em família.

Ouvir “Alô ao

Telefone de

Alguém que lhe

quer bem.

Escutar a batida

do meu

“coração”.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Uma rosa em segredo



Walnize Carvalho
Dora passava pela rua quando deparou com uma manifestação popular. Bem diferente de gritos exaltados havia cantoria que se misturava com orações, palavras afetuosas e...distribuição de rosas.Rosas vermelhas.
Timidamente, aproximou-se do grupo e se deu conta que se tratava da comemoração do “Dia internacional da Mulher”.Ficou por ali calada e emocionada quando um dos manifestantes aproximou-se dela e lhe entregou uma rosa.Rosa vermelha.
Ruborizada, mas feliz fez o trajeto de casa carregando o mimo nas mãos como quem carrega algo precioso e frágil. E era frágil. Era uma rosa. Uma rosa vermelha. E era preciosa, pois não se recorda dia algum em que levava em mãos oferta tão significativa.
Visivelmente envaidecida, aspirava de minuto a minuto o belo presente.
Quase chegando à casa, uma dúvida misturada com angústia povoaram seu pensamento: Como abrir a porta da sala e deparar com Dagoberto - seu marido-( que por certo estaria lendo os jornais) com a rosa vermelha vistosa e perfumada, sem que ele a olhasse com espanto e a enchesse de perguntas quebrando todo o encantamento?
Preferiu entrar pela portas dos fundos e no quartinho dos fundos acomodou “sua menina” no primeiro recipiente que encontrou.Buscou água para regá-la e dia após dia cumpria o prazeroso ritual de ir visitá-la para inebriar-se com o seu perfume...
Até que ,numa manhã, Dagoberto (o marido) anunciou viagem de negócios.
Dora correu a um só fôlego para o cômodo onde trazia prisioneira, a rosa.A rosa vermelha.Planejava colocá-la numa jarra bem bonita no centro da mesa da sala´onde ela iria, afinal, exalar sua fragrância reinando absoluta sem pudor e questionamento.
O que encontrou foi sua rosa desfalecida, despetalada . Com lágrima nos olhos recolheu as pétalas já não mais vermelhas (em tom rubi )e levemente ressecadas, mas que ainda exalava um pouco do perfume do “primeiro encontro”.
Buscou um livro na estante e nele depositou as fragmentos de ternura.

sexta-feira, 12 de março de 2010

“Sabe aquele dia!?!"



Sabe aquele dia?

Em que a manhã chega

Você abre o fogão.

Para fazer o café

O gás acabou.

Você pede o gás.

Custa a chegar.

Mas...

Quando chega

O entregador

Lhe entrega junto de um sonoro Bom-Dia

um largo sorriso?

Sabe aquele dia?

Em que a tarde chega

E ao atravessar a rua

O sinal luminoso fecha

Mas...

de um carro

uma criança

abre uma cara de alegre e lhe dá um aceno?

Sabe aquele dia?

Em que a noite chega

Você volta pra casa

cansada

busca o livro que comprou...

O filho levou...

Busca outro

para

lhe fazer companhia e embalar seu sono?

E o

que

puxa

na estante

é

POLLYANNA?...

PS: Dedico este espaço de hoje a todos aqueles que, como eu, vez por outra, fazem como Pollyanna “O jogo do contente”.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A mulher nua


(Quadro; Untitled, de Sergey Luppov)

A mulher nua, de Juan Ramón Jiménez

Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?
(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corp...o,
calor e amor, mulher nua!)
Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Chuva


Walnize Carvalho

Tédio

Dia chuvoso.

A chuva empoça a minha alma.

Vontade de chorar

De colocar

A chuva pra fora!...

Mas, qual!

Olho a chuva da janela.

Descubro crianças

Banhadas de alegria.

Também eu,

Quando criança

Quis me molhar,

Brincar na chuva,

Buscar alegria.

Alegria...

Que esta chuva

Tão fria e cinza

Não me traz.

Tédio.