sexta-feira, 24 de agosto de 2012

No "Quarto" Do Carmo se sentiu em casa...

...e voltou!

Mais uma de "Do Carmo: a polly...valente"

Walnize Carvalho

Andava a passos largos naquela manhã de segunda, rumo ao centro da cidade, quando senti que em meus calcanhares alguém me alcançara.
Era Do Carmo, que esbaforida foi logo perguntando:- Está indo (como eu) enfrentar alguma fila? Respondi com Hã! Hã!...E ela : É fila de banco, de casa lotérica...que nem as de prioridade tão dando conta!...
Balancei afirmativamente a cabeça e chegamos a esquina a fim de atravessar a rua.De um dos carros o motorista(já freando) acenou para nossa travessia.
Seguimos.
Na calçada, dois senhores conversavam e à nossa passagem silenciaram e abriram gentilmente a passagem.
Entrei na farmácia e Do Carmo ...também! No caixa ,um rapaz cedeu lugar par ela (que sem cestinha,trazia nos braços várias mercadorias) o que ela correspondeu com um sorriso largo.
Saímos -digo saímos - pois ela achou por bem de me fazer companhia.E a cada passo dado, a cada lugar adentrado, Do Carmo se sentia prestigiada, tamanho afeto e atenção a ela dirigidos.
E, subitamente, me disse em tom de euforia: - Acho que depois de aparecer no blog " Quarto de Segredos" virei Celebridade...
Eu, pontual, mas sem querer magoá-la, respondi: -Menos, Do Carmo, menos...Não é que você tenha tornado Celebridade! É tudo culpa da Terceira Idade!!!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Do Carmo passeia no "Quarto"

Apresento aqui no blog um personagem que criei:"Do Carmo a polly...valente".Geralmente ela nos faz rir de suas atrapalhadas; em outras de sua ingenuidade e até em meio ao riso nos escorre alguma lágrima.É que a Do Carmo é um pouco da vizinha, da tia, da desconhecida e de mim mesma:Retrato de um personagem do cotidiano.

Do Carmo: uma vida a ser contada
walnize carvalho

Quando ela se anunciava (fim de semana ,geralmente, era quando a “danada” a pegava de jeito) sai de baixo ... Do Carmo ficava impossível e com um estranho desejo.
Era a vontade de sentir Tristeza. E tinha que ter tristeza para justificar a tristeza.
Arranjava um grande motivo para deixá-la chegar ... e ficar.
E assim, lenço na cabeça, avental, pano de chão, balde e vassoura se dava a faxinar a casa. Para ela uma sensação ambígua de humilhação e glória. Suor pela face, joelhos no chão, limpava canto por canto. Verdadeiro auto flagelo.
Olhava as unhas pintadas na sexta-feira já totalmente destruídas. A escova progressiva já dava sinais de ter que ser refeita (gastara um bom dinheiro).
Respiração ofegante, coração exultante.
Como estava só em casa aproveitava para ouvir os velhos sucessos musicais do tipo “Ninguém me ama; ninguém me quer”. Cantarolava ... E bem lá no fundo de seu ouvido o refrão da “Escrava Isaura” fazia ressonância: “lerê, lerê, lerêlerêlerêlerêêê”...
Afinal, movida de tamanha felicidade de ter conseguido o seu intento – sentir Tristeza - jogava-se na poltrona (após banho tomado), fechava as cortinas da sala e começava a chorar, gargalhar, soluçar.
Vencida pelo cansaço, dormia abraçada à “visita” como um anjo sem culpa.