sexta-feira, 30 de julho de 2010

O escritor


Walnize Carvalho
(para meu pai Waldir Carvalho)
Todos os dias ele se refugiava na sua ilha .
Ilha da fantasia.
No escritório biblioteca, em frente à maquina de escrever , ele sonhava
Viajava por passeios que não fez ;
Via cenários que não eram seus seus ;
Promovia diálogos dos quais não participava.
Na companhia do instrumento de trabalho, ele criava
Letras,palavras e textos .
Historias que brotavam da mente e do coração .

Mais tarde,impresso em papel
O fruto da sua imaginação –o livro –

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Vocações


Walnize Carvalho

- O que você vai ser quando crescer? – perguntaram à menina do cacho dourado. E ela prontamente respondera, como aliás, por certo responderiam meninas de cabelos de franja, de rabos de cavalo, de laços de fitas, de toda uma geração igual à dela: - Professora!
E assim foi que o tempo incumbiu-se de fazê-la exercer a profissão profetizada em sua inocência dos sete anos.
Espelhada em doces lembranças como a de ir de mãos dadas para a escola com a mestra que era sua vizinha, ou a de brincar de professora com primos que vinham do interior (com direito a “ditado” e “redação”) sentira que fora boa mestra nos alguns anos que estivera em sala de aula.
O grupo escolar em distrito a vinte e dois quilômetros da cidade, por lá estivera em dias de sol, em dias de chuva e até grávida dos dois filhos sem nunca faltar à doce missão...
Depois várias vocações surgiram em seu caminho: dublê de mãe, de dona de casa, de avó, de contadora de histórias, de poeta...
Com o tempo passando notara que o bom exercício delas, se devia ao fato de que se tornara mais aluna do que educadora.
E, em dias de reflexão, revendo no currículo o campo “habilidades profissionais” percebera que a na Escola da Vida não havia sido reprovada na matéria Boa Vontade e uma forte constatação: sempre tivera VOCAÇÃO para a FELICIDADE.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Busca

Walnize  Carvalho
Eu busco um sorriso
Sorriso puro
Que não seja um riso só.

Eu busco um canto
Um canto igual
Canto de paz.

Eu busco no Tempo
meu tempo
Sem tempo de voltar.

Eu busco um olhar
Olhar criança
Olhar esperança.

Eu busco o AMOR
O Igual
A Paz
E muito mais!

Eu busco um céu
Onde brilhem estrelas
De todas as cores
De todas as luzes
De todas as raças
E que reunidas
Só tenha o tom:
IGUALDADE.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Resgate

Walnize Carvalho

Acordou com vontade de trazê-la de volta.Nem que fosse por algumas horas.
Levantou-se da cama.Cabelos em desalinho.Lençóis com as marcas do seu corpo (deixaria tudo para acertar depois)
Procurou no guarda-roupa um vestido branco, próprio para o dia de primavera com ares de verão.
Enquanto amarrava o laço de fita na cintura (ele tinha um laço de fita cor de rosa) lembrou-se que em criança tinha um anel de chapinha.
Nele impressas as iniciais do seu nome.
Lembrou-se também da caixinha em que guardava o mesmo: caixa de veludo azul, onde apertando ficavam as marcas dos dedos.
Saiu à rua com a idéia bailando em sua mente: “vontade de trazê-la de volta...”
Seguiu até a feira do Mercado Municipal.
Comprou uma cesta de cajus fresquinhos.
Trouxe para casa. Na cestinha (achava linda, sentiu-se a própria chapeuzinho vermelho)...
Entrou.
Foi à pia.Lavou algumas frutas.Como uma menina levada sentou-se no umbral da porta da cozinha.
Saboreou os cajus displicentemente.
No vestido branco, as nódoas trouxeram afinal, a sua infância devolta.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Marcas


Walnize Carvalho

Desligou a tevê.
Dirigiu-se ao quarto. Precisava achar o sono, pois tinha compromisso marcado, bem cedo, para o dia seguinte.
Tirava a maquiagem olhando-se no espelho. As marcas do tempo estavam lá, em sua face.
Desfez-se dos trajes e acessórios para usar roupas de dormir.
Correu os olhos pelo corpo: as marcas do maiô, do relógio, da aliança, da vacina tomada em criança, das cirurgias feitas, da correntinha de ouro.Elas estavam lá, bem visíveis.
Sentiu-se como se tivesse sido tatuada pelo o tempo.
Cerrou os olhos. Mergulhou no seu íntimo. E viu lá no fundo do seu coração as marcas patenteadas, mas invisíveis.
Fez o sinal da cruz. Tentou dormir, pois a hora marcada para o compromisso do dia seguinte era cedo: sete da manhã.