sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Velha Companheira
Walnize Carvalho
Com o término do ano preparo-me para a sua despedida. E, confesso, já estou com saudades dela.
Olho-a com ares de ternura e uma certa melancolia me invade.
Vejo o seu jeito cansado, desgastado, amarrotado pelo tempo – afinal, um ano se passou – e ela ali, firme, guerreira, acima de tudo, velha companheira.
Sem ser volúvel (mas é necessário que assim o faça) irei substituí-la por outra. É o ciclo da vida.
Com ela, nestes doze meses, dividi tristezas e alegrias.
Arquitetei planos.
Realizei sonhos.
Deixei em sua face sinais de lágrimas e até marcas de batom.
Impregnei-a de frases lidas, ouvidas e até criadas por mim.
Empenhei com ela (em vão) a sentença de que “não se deixe para amanhã o que pode fazer hoje”. Mas, muitas vezes, dada às circunstâncias coisas ficaram para... depois de amanhã.
Ela, compreensiva e silenciosa, sempre entendia os meus anseios.
Minhas frustrações? Passei-lhe todas.
Derramei sobre seus ombros várias emoções vividas e ela as recebia com entusiasmo.
A simbiose afetiva transcorria de forma envolvente e profunda.
Verdadeira entrega.
Como autêntica arquivista documentou tudo o que eu lhe passava sem contestação.
Agora, aqui fico a admirá-la e esquecida de mim leio em seu semblante minha história desenhada.
Revejo no tempo o meu aprendizado e constato que foi enriquecedor estar em sua companhia.
Ela está de partida. Cansada, mas com sentimento do dever cumprido, pois mais do que companheira foi minha cúmplice.
Agüentou, serenamente, confissões e desabafos.
Com o término do ano preparo-me para despedir-me da minha AGENDA .
Uma amiga? Uma companheira? Tudo isso. Mas, acima de tudo, a reprodução de mim mesma.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
E chegou o Natal...
Para sempre Papai Noel
Walnize Carvalho
(da lembrança do meu pai)
A menina entreabre os olhos.
Vê que vem do cômodo ao lado de seu quarto, uma luminosidade.É manhãzinha. Olha para o lado. Suas irmãs estão dormindo nas caminhas enfileiradas.
Levante-se, sorrateiramente, e vai ate aonde a luz chama. La está ele –seu pai- os apetrechos de barbear :bacia, pincel, espuma, gilete.
Prepara a espuma e desenha no rosto a barba – barba de Papai Noel.
A menina chega. Debruça-se sobre o parapeito da pia e fica a admirar aquele que tantos anos repete o ritual e transforma no seu herói preferido.
Espuma branca ... lembrança pura.
A mulher entreabre os olhos.
Sai á rua na manhãzinha. Passa por uma barbearia.Espia um senhor sentado,toalha no pescoço,cabeça recostada.
O barbeiro prepara o rosto dele. Mesmos apetrechos de barbear. Mesmas lembranças.
Modela naquele rosto cansado a barba de espuma branca.
O Papai Noel volta a bailar na mente daquela mulher.
O momento é mágico e por segundos uma nuvem de paz envolve o ambiente.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Para Ana Paula
"Eu encheria de estrelas
uma cesta bem grande,
se pudesse colhê-las...
Escolheria com carinho
e o máximo cuidado
(será que elas se apagam
ou se quebram?!...)
as mais brilhantes,
as que ficam mais perto
do trono azul de Deus...
Depois, iria à sua casa,
toda cheia de brilhos,
como a primeira distribuidora de estrelas,
de estrelas vivas e genuínas!
E, num arranjo cuidadoso
de decorador diplomado
deixaria seu quarto
ou,se prefere, a sua sala
igual a um grande céu
tendo o maior cuidado
de fazer de tal modo o meu arranjo,
que ficasse
bem claro e definitivo.
Depois, me esconderia
atrás da cortina
a fim de ver e curtir
aquele brilho nos seus olhos,
ao descobrir o meu presente:
-o céu trazido assim
pra dentro do meu quarto!
Mas...
que adianta sonhar?
Estrelas são estrelas
e nunca poderão baixar à terra...
No entanto,Amiga,
se você
olhar hoje à noite, pela janela
eu juro, que verá
algumas estrelinhas
piscando pra você
como a dizerem:
"Uma ave me contou que hoje é seu dia!
Meus parabéns!
FELIZ ANIVERSÁRIO!"
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Denominações afetivas
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
História em quadrinhos
Walnize Carvalho
Manhã de sexta-feira.
Ida ao shopping.
Entre pessoas apressadas, curiosas, mal-humoradas, com sacolas, com crianças, cenhos fechados, observadoras, casais de namorados... Ela passa, a mulher.
Observa o olhar faminto. Uns com fome de guloseimas, outros de consumos materiais.
E como o lugar é propício para diversão, lazer e prazer, flagra sorrisos de felicidade: da moça no balcão da loja olhando as fotos reveladas; da jovem na livraria recebendo um livro de presente; da menina comprando sorvete de três sabores; da senhora pesando na balança da farmácia.
E mais a alegria estampada no senhor sorvendo vagarosamente o café expresso; do menino jogando videogame; do rapaz assistindo esporte na tevê da loja; do idoso conferindo a tabela de promoção de remédios...
Continua andando.
Um “flash” a faz parar. Uma pessoa a observa.
Está diante de um espelho. A mulher e a escritora frente a frente completam os personagens da história em quadrinhos de uma revista diária.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Elas estão crescendo...
Walnize Carvalho
Lembro-me bem, com que carinho, falei sobre elas : “As meninas circulam meu dia- a - dia. Jogam-me na roda, no centro da roda, na berlinda. A romântica puxa-me pela saia, quer que abre gavetas, escreva emoção sentida em qualquer folha de papel.A vaidosa coloca-me frente ao espelho,quer me ver bem - olhos brilhantes - batom bem retocado nos lábios .A organizada olha o relógio, ajeita a roupa, combina cores de calçado e blusa ,vai à luta cumprir jornada e é a mesma que chega comigo ao lar e insiste em brincar de “casinha”.A desprendida (cabelos ao vento) corre lépida para ver o mar, o luar,ou alguém para falar...agitada deixa-me quase sem ar! Mas, há a menina assustada, que vez por outra vem visitar-me na calada da noite...se achega de mansinho, pede-me colo e uma historinha que a faça dormir...E assim, brincando com elas de “bem-me-quer e mal-me-quer” encontro no dia-a-dia minha essência de Mulher!...”
E, de repente, dia desses percebo o desassossego .A um canto as cinco meninas cochichavam dando-me a nítida impressão que falavam a meu respeito.
Aproximaram-se de mim e novamente colocaram-me na berlinda.A desprendida tomando as dores das outras,iniciou as reivindicações: -Não somos mais crianças! Queremos liberdade!Eu, por exemplo, estou entediada! Você - apontou-me- só quer saber de viagens virtuais! De vez em quando,vamos a um cineminha com a condição de que eu fique com modos de menina comportada. Não me leva para ver o mar, o luar ...
Foi a deixa para que a vaidosa entrasse em campo:-Para onde foram nossas idas constantes ao salão de beleza, às compras nos shoppings?
Bastou para que a organizada se manifestasse : -Aposentou se do trabalho e da vida social também? Até as nossas brincadeiras de “casinha” se tornaram enfadonhas de tão rotineiras!
A assustada começou a cantarolar: “Eu perdi o medo/o medo da chuva!...” E acrescentou,com ares de superioridade: -Nada como um bom livro de cabeceira para me levar ao sono!
Sem ação e sem resposta fiquei por ali, pensativa, durante alguns minutos.
Levantei-me da cadeira e me preparava para uma ducha fria, quando alguém enlaçando-me pelo pescoço sussurrou aos meus ouvidos: - Quero que fique tudo como está! Serei sempre sua companheira!
Saímos abraçadas e emocionadas em busca de papel e caneta: eu e a menina romântica.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Visões do apartamento
Walnize Carvalho
Na janela, mulher empilha folhas de papel:
- inspiração.
Na calçada, homem empilha caixas de papelão:
- ganha-pão.
Na praça, velho empilha cartas de baralho:
- diversão.
Na rua, guarda empilha multas de trânsito:
- infração.
No bar, rapaz empilha engradados de cerveja:
- comemoração.
Na loteria, senhora empilha contas a pagar:
- inquietação.
No templo, jovem empilha folhetos:
- conversão.
No jornal, corpos empilhados em mais uma chacina:
- mundo cão.
domingo, 14 de novembro de 2010
A dança vesperal
Walnize Carvalho
Aproveitando o feriado resolvi ir até Niterói.
Primeira providência: ligar para a neta mais velha e marcar encontro.
Confirmada a ida ao shopping, preparei-me para descer à rua.
Mirei-me no espelho. Escolhi roupa, calçado, bijuteria e cor de batom,pois a menina gosta de me ver arrumada.
Olhei para o relógio. Cinco da tarde. Apressei-me. Desci. Observei que o vento enviesado era prenúncio da tempestade vespertina.
Ao por o pé na calçada ouvi grito de alerta: - Sujou! Olhei à volta. E, como num estalar de dedos, as calçadas da rua central ficaram limpas .
Olhei o céu. Não era a chuva anunciada, que fazia as pessoas se apressarem. A tempestade era outra.
Assim, como pássaros, habitualmente, voam desencontrados ao ouvirem tiros a distância, vindos dos morros da cidade, assim ,os camelôs faziam .Cada qual corria para proteger suas mercadorias ao pressentiram a chegada dos fiscais .
O grito era de um dos vendedores, que alertava seus colegas da presença dos moços fazendo com que todos saíssem em “revoada” .
Carregavam caixas na cabeça, sacolas nos braços, cabide e tabuleiro nos ombros. Deslizavam com carrinhos de feira, por entre carros apressados.Mercadorias variadas que iam desde relógios, canetas ,bijuterias ,bolsas, lenços , maquiagens, dvd’s, pilhas, brinquedos até filhotes de cachorro .
As calçadas ficaram livres. As pessoas recomeçaram a circular. Por uns instantes, fiquei parada. Dei alguns passos e posicionei-me em frente ao Teatro Municipal de Niterói.
Ouvi uma melodia suave vinda do chão, em meio a folhas secas, filipetas de propagandas, pontas de cigarro, papéis de balas, que o corre- corre urbano se incumbe de servir como desculpa para a desatenção e falta de educação dos transeuntes.
Abaixei-me e apanhei o objeto perdido: uma caixinha de música, onde uma bailarina rodopiava... rodopiava...
Segurei-a entre as mãos .Olhei à volta à procura do dono . O camelô já ia longe.
Olhei para o alto.Na fachada do prédio do teatro, um letreiro anunciava :
COMPANHIA DE DANÇA
SÁBADO – 19 HORAS
ÚNICA APRESENTAÇÃO .
Um sorriso melancólico estampou –se em meu rosto .
Acabara de assistir a um balé de todos os dias, a um espetáculo diário de grande metrópole.
Do outro lado da calçada, a neta me avistou.Saltitante veio ao meu encontro.
Bonecas
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
A freira e o guarda chuva
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Semelhanças
Walnize Carvalho
A árvore parece doente e só.
A pintura branca até a metade do seu caule assemelha-se a uma bota de gesso.
Sua coluna alquebrada e suas folhas ressecadas diagnosticam
osteoporose e doença de pele.
Solitária em um jardim de casa abandonada (casa de veraneio
fora de temporada).
Aguarda a visita de pássaros no fim da tarde, que virão para se
abrigar em seus galhos e lhe sussurrar cantos melodiosos.
A cena remexeu minhas lembranças.
Nitidamente me veio a imagem do velho ,que na infância vi no Asilo. Chamou-me e contou-me histórias.Retribuí com sorrisos e afagos.
A árvore.O velho.A criança.O pássaro: sutis semelhanças.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Poema para a nossa presidenta
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Com jeito de mulher
Walnize Carvalho
Não foi puro, creio eu, que Deus ao criá-la batizou-a com nome feminino: NATUREZA.
Bela, quase sempre. Silenciosa, às vezes. Generosa, outras tantas. Caprichosa, quando quer. Exibicionista. Determinada. Habilidosa. Espontânea. Contraditória. Versátil. Dócil. Rebelde. Voluptuosa.
Foi assim que pensei, ao passar naquela tarde chuvosa de inverno, pela BeiraValão e vi destacando-se entre os ipês floridos, uma imensa árvore coberta de dourados brilhos.
Como uma bela e desejada mulher, ali se fazia presente, contrariando seu tempo de florescer (primavera). Com pujança dava um show de exibicionismo com tempo marcado para “retirar-se de cena” e usar trajes comuns.
A Natureza e sua suntuosidade.
E continuei meditando: quantas espécies habitam o Universo (rios, mares, florestas, pássaros, cachoeiras, etc. ...) seguindo a ordem natural estabelecida, muitas vezes apresentam espetáculos diários sem o olhar do Homem?!?...
A Natureza e sua espontaneidade.
Sigo a caminhada. Mais adiante reflito: e as catástrofes, as devastações dos rios e mares?!?...
A Natureza e sua agressividade.
O pensamento gira: e quando nas redes dos pescadores vêm saltitando sortimento de peixes e crustáceos?!?...
A Natureza e sua generosidade.
Paro o trajeto. A chuva cessa. O sol aparece por entre as nuvens. No céu desenha-se um portentoso arco-íris.
A Natureza e sua versatilidade.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Devaneio
Devaneio
Walnize Carvalho
Imaginem se pudéssemos chegar ao balcão de uma loja pedindo: - Embrulhe em papel de presente (o mais vistoso) uma caixa recheada de Paz. Ou se ligássemos para um hortifruti solicitando: - Separe duas dúzias (bem fresquinhas) de Harmonia e traga no endereço tal. Ou se fizéssemos (via Internet) uma encomenda urgente de três pacotes de Felicidade?!? No mínimo, significaria devaneio ou surto de loucura! Mas se somos todos “loucos” por esta trilogia ( paz, harmonia e felicidade ) seria uma conquista e tanto. Seria?
Convenhamos, que se nos fartássemos de tais iguarias em tamanha proporção estaríamos fadados à indigestão, tamanho peso no estômago e que antiácido algum daria jeito.
A escolha sensata é a de sempre saborearmos desses doces sentimentos enumerados, em porções balanceadas e, se possível, mescladas com amargos sabores (Dor, Tristeza e Saudade) o que torna a refeição – digamos assim – agridoce.
Se pensarmos bem, concluiremos que a vida nos oferece um banquete de cardápio variado. Só nos resta optar pelo “prato” a ser digerido.
À cada dia, desde o café da manhã pesamos na balança do bom senso nossas decisões. Devemos observar com cautela, qual o caminho a seguir: ou renunciamos a um projeto tão sonhado ou persistimos nele até que se concretize.
Muitas vezes, por açodamento, procuramos o caminho mais curto, mas que nem sempre nos leva a lugar algum.
De outra feita, somos tomados por forte indecisão. É como que chegássemos a um self service; parássemos diante de variada gastronomia e nos indagamos: feijoada ou massa?...
No “bate e rebate” do cotidiano estamos para perder ou ganhar; lutar ou resignar; nos reprimir ou nos libertar.Não é esta a receita de um bem viver?
Há dias em que o choro nos lava a alma. Em contrapartida, há momentos em que o nosso riso em excesso revela uma falsa euforia.
Repetimos à exaustão: “Todos temos o direito de ir e vir”. Mas sabemos sempre quando ir ou quando vir?...
Será que avaliamos com precisão quando é a Razão ou o Coração que deve falar mais alto? ...
São estas indagações que dão tempero a nossa vida. Concordam?
Retomo ao devaneio do início da crônica: ter por inteiro a Paz, a Harmonia e a Felicidade.Pura ilusão! Elas nos são servidas em fatias!...
O interessante é nestes momentos cada um de nós: apaziguar o coração, harmonizar o espírito e se felicitar com os consagrados versos : “Felicidade...Esta árvore milagrosa que supomos/ arriada de dourados pomos/ existe sim,/ mas nós não a alcançamos/ porque está sempre onde a pomos/ e nunca pomos onde nós estamos”.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Conto de Jardim: Equinócio
terça-feira, 12 de outubro de 2010
O bambolê amarelo
O bambolê amarelo
Walnize Carvalho
Dia da criança!...Tempo de lembranças da infância...
Bola. .Brinquedo. Presente. Passado. Bambolê.Um bambolê amarelo.
Assim foi que era tardinha. .
Pela rua do Mercado (Oliveira Botelho) que fica em frente à minha casa de infância, lá vinha ele(meu saudoso padrinho em minha direção. A novidade nas mãos.
E eu, a afilhada que tanto amava, naquele dia recebi o presente: o bambolê (brinquedo que naquela época era novidade )
Ainda é viva a lembrança.: A calçada da rua do Gás; as irmãs ; as meninas da vizinhança e, eu -dona do círculo dourado – administrava o empréstimo à garotada.
Alegria...Inocência... Reminiscências...
Guiada pelo sentimento abri o portão de casa e postei-me na calçada.
As lembranças rodam .Redemoínho.
Transformo–me na menina que fui : coloco as mãos na cintura.Fecho os olhos e giro...giro...giro.
Um bambolê imaginário circula em meu corpo uma imensa saudade da infância que se foi na roda da vida.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
O pulsar da cidade
O pulsar da cidade
Walnize Carvalho
Na banca de revistas,
Grupo de senhores
Filando
Leitura de jornais.
No umbral da janela,
Roda de pássaros
Disputando
Farelos de pão.
Na porta da igreja,
Cacho de velhinhas
Rezando
Oração matinal
No meio da praça
Conjunto de transeuntes
Ouvindo
Pregação do vendedor.
Na entrada da repartição,
Aglomerado de rapazes
Pleiteando
Emprego definitivo.
No meio do Calçadão
Homens comuns,
Executivos,
Comerciantes,
Várias classes sociais
Em torno do assunto da semana:
- Eleições em todo o país.
A cidade pulsa.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Liberdade maior
Liberdade maior
Walnize Carvalho
Queria ser livre
Correr mundos
Viver!...
Até que um dia
(que dia!)
Uma ventania de fim de tarde
Satisfez
O seu desejo.
Que felicidade!
Nos braços do vento
Foi em busca
Da vida sonhada
Da viva
Somente vivida
Pelos passarinhos
Que vinham pousar na árvore em que morava.
E
Lá se foi ela.
Feliz
Correu quintais
Atravessou muros
Percorreu quintais...
Até que...
Um vento maroto
A fez cair
No rio que cortava a cidade.
Levada pelas águas
Se foi para
um mundo
liberto
um mundo
distante
pra não mais voltar..
-Esta é a história de uma folhinha que um dia se foi da árvore do meu quintal.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Manhã em Flor
Nossa amiga Jane Nunes propôs e nós acatamos sem hesitar. Para o aniversário da Walnize uma blogagem coletiva.
Para quem semeia poesia na bagunça do dia-a-dia desejamos um dia florido como seu sorriso...
Dos seus amigos do Sociedade Blog, Estou Procurando o que Fazer, Quarto de Segredos, Sabor e Histórias e Blog do Núcleo.
Outono, inverno, verão, primavera na vida. Longe de essa ser uma digressão climática, mas uma reflexão de vida com um V maiúsculo.
Sempre ouvimos a expressão “flor da idade” em relação à juventude, aos nossos vinte anos. Será essa a primavera florida da vida? Pode ser até que seja para alguns, mas acho difícil.
Acho que os vinte anos são os nossos verões: tumultuados, intensos, sufocantes e tempestuosos. Penso em primavera como algo muito mais aconchegante, suave, sereno, doce, florido, quente, mas sem sufocar, ensolarado, mas sem queimar.
Primavera entra na vida devagar, com sua luz pelas frestas das janelas, por vezes ainda fechadas. Sutilmente espalha o sol das manhãs sem ofuscar os olhos e traz um sopro de vida pra dentro da penumbra.
Na primavera há lugar para brisas e ventos fortes, calor e friozinho (na barriga), insônias (sonhos de olhos abertos) e sonos tranqüilos. Nessa estação há lugar para muita coisa, mas tudo mais natural, como o rio em seu inexorável caminho para o mar...
Texto de Ana Paula Motta
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sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Vida de artista
Vida de artista
Walnize Carvalho
A menina usa maquiagem
Pensa que é modelo.
A senhora veste minissaia
Julga ser atriz.
O menino capricha no modelito
Se acha o galã das oito.
O senhor pinta o cabelo
Se diz jovem de quarenta.
O jovem adormece com ipod no ouvido
Demonstra cansaço e tédio.
O velho ouve som alto no carro
Se sente moderno.
O homem veste roupa de etiqueta
Supõe ter poder.
A mulher compra bolsa falsificada
Crê poder ter.
O adulto brinca de vídeo game
Acredita ser criança.
A criança fala em política
Imagina ser adulto.
E no melhor estilo de Pirandello
“Assim é, se lhe parece”...
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Tarde de Sábado
Tarde de sábado
Walnize Carvalho
Naquela tarde de sábado
Sábado ausente em distância
Sábado presente em pensamento
Eu queria
Ter ouvido tocar o telefone
- tocar uma única vez.
Eu queria
Atender com aquele “alô”
Apagado
Sem calor
E
Ouvir do outro lado
Aquele “alô”
Vivo
Animador.
Naquela tarde de sábado
Os minutos
As horas
Se passaram...
Esperei
Ouvir sua voz
Esperei tanto
Para lhe dizer
Das coisas velhas
Das coisas novas
Da coisa eterna: o meu Amor
Eu queria tanto...
Mas
Aquela tarde de sábado
Fez do sábado
Um sábado qualquer.
E da espera de ouvir
A espera de esperar...
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Noite de luar
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Executiva
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Banalização
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Sem par
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Feira de artesanato
sexta-feira, 30 de julho de 2010
O escritor
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Vocações
- O que você vai ser quando crescer? – perguntaram à menina do cacho dourado. E ela prontamente respondera, como aliás, por certo responderiam meninas de cabelos de franja, de rabos de cavalo, de laços de fitas, de toda uma geração igual à dela: - Professora!
E assim foi que o tempo incumbiu-se de fazê-la exercer a profissão profetizada em sua inocência dos sete anos.
Espelhada em doces lembranças como a de ir de mãos dadas para a escola com a mestra que era sua vizinha, ou a de brincar de professora com primos que vinham do interior (com direito a “ditado” e “redação”) sentira que fora boa mestra nos alguns anos que estivera em sala de aula.
O grupo escolar em distrito a vinte e dois quilômetros da cidade, por lá estivera em dias de sol, em dias de chuva e até grávida dos dois filhos sem nunca faltar à doce missão...
Depois várias vocações surgiram em seu caminho: dublê de mãe, de dona de casa, de avó, de contadora de histórias, de poeta...
Com o tempo passando notara que o bom exercício delas, se devia ao fato de que se tornara mais aluna do que educadora.
E, em dias de reflexão, revendo no currículo o campo “habilidades profissionais” percebera que a na Escola da Vida não havia sido reprovada na matéria Boa Vontade e uma forte constatação: sempre tivera VOCAÇÃO para a FELICIDADE.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Busca
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Resgate
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Marcas
sexta-feira, 25 de junho de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Foto mensagem
domingo, 13 de junho de 2010
Procissão
sábado, 12 de junho de 2010
Mormaço
Peço desculpas pelo atraso. A Walnize me mandou o texto desde quinta-feira e eu na correria e no meio de um gripe que resolveu não me largar acabei por postar só agora.
sábado, 5 de junho de 2010
Alma em transbordamento
Sonhar, viver em transbordamento.
Menina,
É preciso cuidar-se.
Prepare seu mundo em silêncio,
Arrume sua casa sem alarde,
Cuide do que é seu com reservas,
Sorria de felicidade, não gargalhe,
Cultive suas flores com zelo,
Espalhe suas sementes no jardim
Deixe que as raízes
Agarrem-se ao solo devagar,
Quieta no silêncio particular,
Traga para o seu sonho em noite alta,
O canto de sua alma a transbordar...
quinta-feira, 3 de junho de 2010
A dor que sai no jornal
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Texto de outros tempos
Se eu voltasse a ser criança
Walnize Carvalho
Ah!
Se eu voltasse a ser criança
A criança de verdade que fui...
Se este sonho
Se tornasse realidade.
Sentir a infância.
Voltar no tempo...
Viver
Novamente
Um mundo de sonhos
_sonhos dourados
Com bonecas
De pano
De louça...
Viver novamente
Um mundo à parte
Todo meu
Inteiramente meu...
Um mundo
Que não pode ser:
Trocado
Roubado
Muito menos vendido
Porque
As fadas
Os dragões
E Cinderelas
Não têm preço.