quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Conto de Jardim: O Ano Novo


Depois de um ano tão difícil e ao mesmo tempo com tantos obstáculos vencidos só pensava duas coisas: "Como eu gosto da minha vida e como são tolas as promessas de ano novo".
Parar de fumar (nunca havia feito essa promessa, engravidou e simplesmente nunca mais fumou), fazer dieta (depois de certa idade o que importa é não ultrapassar certos limites perigosos de peso, corpo ideal é delírio de menina insegura), ser mais tolerante (isso aprendeu depois dos 40 anos e não num primeiro de janeiro qualquer)...
Detestava as festas de reveillón com muita bebida e quase nenhuma comida,conforto zero e zilhões de pessoas desconhecidas ao redor. Decidiram partir rumo ao sol, porém apenas para assistir a queima de fogos. Depois aconchego de uma festinha me família, mesa posta,velas e flores.
Lembra-se sempre do avô nessa data: "Olha pro céu,olha o ano velho indo embora e o ano novo chegando." E das lamúrias da avó,:"Para o ano eu não estarei mais aqui" (viveu 93 anos).
Definitivamente não era uma festa dela,amava o Natal, mas as comemorações de Ano Bom traziam sempre um certo tédio, um gosto meio cinza na boca. Ano Bom é estar cercada de amor.
Que viesse mais um ano, sem promessas, sem tantas expectativas, um ano de sentimentos plenos e guarda-roupa arrumado.
Com amor, rumo ao sol..

domingo, 27 de dezembro de 2009

Conto de Jardim: O Natal


Teve um ano difícil. A decisão de deixar para trás a casa confortável, os amigos, os parentes e até mesmo os meninos adolescentes não tinha sido fácil.
Sua mãe tinha sido uma santa quando trouxe pra ela a responsabilidade por seus rapazes. O marido mais uma vez demostrou um carinho maior que qualquer outra pessoa, decidiu trabalhar menos e comprou aquele chalé no meio do nada.
A filhota, sua bonequinha, sua única companhia de segunda a quinta.
Os meses no campo tinham feito bem,estava mais gorda,é verdade, mas tinha a pele mais brilhante e os cabelos estavam compridos e sedosos. Voltou a gargalhar como antes.
Resolveu transformar a casinha num lugar mágico. O primeiro Natal longe do "mundo", cercada de neve, de vento, de casinhas simples. Uma aldeia, onde todos se conhecem e se cumprimentam com um bom dia.
Tricotou suas primeiras peças, uma meia para esperar o bom velhinho e um cachecol vermelho para sua pequena.
Forno quente, comida farta,presentes na árvore e um presépio singelo. Tinha tantos afazeres que nem viu a hora passar.
Anoiteceu cedo e nem sombra dos meninos e Ele. Um aperto no estômago trouxe de volta emoções que preferia esquecer.
Medo.

Penteou o cabelo da pequenina, pôs o vestido novo. Mesa arrumada, luzes piscando.Lá fora, só o vento.
Resolveu contar uma história, A Pequena Vendedora de Fósforos. Ficaram as duas ali absortas na tristeza da protagonista. Adormeceram abraçadinhas sob a manta xadrez.
Acordaram assustadas com uma lufada de vento gelado. Os homens da casa. Dez e meia da noite. Pai ao piano, risadas alegres. Os meninos encantados com o velho trenzinho deslizando nos trilhos embaixo da árvore. As antigas bonecas de porcelana traziam um brilho especial aos olhos da filha.
Correu para a cozinha, por pouco o rei da ceia não vira carvão. Respirou aliviada. Estava a salvo.
Sentou-se à mesa e sorriu, aos poucos tinha sua vida de volta.


quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Numa noite especial

Visita Natalina

Walnize Carvalho

Manhã de vinte e cinco de dezembro.

A menina não foi a primeira a se levantar, como de costume. Nem tão pouco a que procurou bem cedo seu presente no sapatinho ao lado da cama.

A mãe estranhou. Veio olhar. A garota ainda dormia.

Estava tão encolhidinha no canto. Parecia sentir frio. Como, se era verão?

Provavelmente sonhava. Derramava um leve sorriso no canto dos lábios. Os olhinhos andavam. Tremiam. Coisa própria de criança entregue ao sono.

As irmãs já haviam aberto seus presentes e nas poucas vezes que podiam ir à rua (a ocasião do Natal era uma delas) se preparavam para mostrar às colegas da vizinhança suas novas bonecas. Geralmente eram bonecas.

E ela? Porque demorava a se levantar, pois se foi a primeira a deitar-se na véspera, tamanha a ansiedade pela chegada do Papai Noel?

Papai Noel.

Findo o mistério.

A menina acordou.

Com ares de felicidade revelou para os pais que naquela noite viu quando o Bom Velhinho chegou.

Estava muito cansado. Aproximou-se dela.

Ao pé de sua cama sussurrou-lhe para que as irmãs não ouvissem:

_ Menininha, não conta para ninguém! Posso descansar aqui um pouquinho?

Ela permitiu. Encolheu-se para o canto e deixou que ele repousasse...

Obs.: Talvez para uns a história esteja incompleta...

Talvez para outros Papai Noel não exista...

Talvez para alguns o “sonho não acabou”.

Talvez...Talvez...

Bom Natal para todos!


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domingo, 20 de dezembro de 2009

Queria





Walnize Carvalho

Queria
Juro
que queria
Um Natal
Em que pudesse
Acreditar no Papai Noel!
Mas...
Com tantos espalhados
Em cada esquina da cidade?!...

Queria
Juro
que queria
Um Natal
Em que pudesse
Depositar meu sapatinho na janela
Mas...
Com ela toda gradeada?!...

Queria
Juro
que queria
Um Natal
Em que pudesse
Enfeitar árvore frondosa da praça
Mas...
Se ela foi ceifada
E
Não há mais o canto sonoro dos pássaros?!...

Queria
Juro
que queria
Um Natal
Em que pudesse
Sonhar com a neve
Mas...
Esta se derreteu junto com meus sonhos?!...

Queria
Juro
que queria
Um Natal
Em que pudesse
ser
O próprio presente
Na vida dos que me querem bem.

Queria
Juro
que queria
Um Natal
Em que pudesse
Achar
Que
Todos soubessem
Quem é o ANIVERSARIANTE
Desta grande Festa!


P.S. Clica na imagem, uma antiga e clássica história de Natal.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O Natal já não é o que era...



Desafio proposto pela Ana Martins, e aceito de bom grado,porque gosto de exercícios de escrita e também o tema muito me apetece. Os links dos blogs participantes:
Ana Martins , Luís Bento , Isa Silva , Nuno Gervásio , Vasco Catarino Soares


Nasci quase no Natal, numa terça-feira em 1966. Não é preciso dizer que as minhas festinhas de aniversário tinham como tema essa data. Cresci em meio a essas comemorações quase sinônimo uma da outra para mim.
Lembro-me de um bolo lindo,acho que nos meus cinco anos, em forma de trenó. Mas como em quase todos os meus aniversários, choveu muito e por pouco os convidados nem chegariam,enfim chegaram e me recordo do lindo trenó até hoje.
Tive uma infância feliz, dessas que não inspiram os tristonhos contos de Natal tradicionais, a data sempre foi mágica para mim. Escrevia cartinhas ao Papai Noel, que viria enregar os presentes comprados por meu pai (aqui em casa era isso que diziam),talvez por isso tivesse tanta certeza de ver meus desejos realizados.
Acreditei no bom velhinho até bem grande e me lembro de tê-lo visto algumas vezes,de relance da janela do escritório na casa de meus avós. Só quando eu já era adolescente soube que era meu pai num suéter vermelho que passava correndo, mas o que importava era a magia da coisa.
Tentei fazer com que os Natais fossem tão mágicos para meu filho,mas ele acreditou em Papai Noel por menos tempo,confessou que muitas vezes fingia acreditar para me agradar.
O Natal já não é o que era, não tenho mais avós, minha avó Bande que adorava a data e nos deixou numa manhã de 25 de dezembro,minha avó Anita que adorava castanhas e era minha companheira na hora de comê-las.
Vovó Bande eu seu peru recheado que virava uma roupa velha maravilhosa no dia seguinte, vovó Anita com sua bacalhoada de comer rezando, tia Genilce e o leitãozinho crocante com uma sabor especial.
Agora temos outras tradições, como as fantásticas rabanadas da minha irmã Cecília, meu presunto caseiro, o peru que a cada ano recheio de um jeito diferente, as invenções de bacalhau que Cecília faz como ninguém (tem o tempero igualzinho da vovó Anita!!) e o ponche natalino em versão com e sem álcool. Eu sou a decoradora "oficial" da família e minha irmã Isabella faz os embrulhos com carinho e paciência,sem falar no presépio que acompanha minha mãe desde antes do casamento e que mesmo com o desgaste do tempo tem lugar de destaque na nossa família.

Para as crianças da família, quem sabe, as referências seremos nós.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

100 mil acessos: Esse número merece uma comemoração!!!



100 mil acessos: Esse número merece uma comemoração!!!Quando criei o blog Todos os Sonhos de Abril, com especial carinho nas férias de 2008, fiquei feliz quando descobri que tinha mais de 100 visitas. Pulei de alegria com as mil e mais ainda com as 10 mil.

Confesso que nunca nem sonhei que um dia chegaria ao número 100 mil. Estou feliz e ao mesmo tempo triste porque por falta de tempo esse meu cantinho querido tem ficado meio abandonado.

Como recordar é viver, resolvi postar o meu primeiro texto. Agradecendo em especial aos primeiros comentariastas do blog e aos que são fiéis visitantes do Todos os Sonhos de Abril,desde 31 de julho de 2008.

Obrigada.

Noites de insônia são boas para...

UrsinhoHouve um tempo em que a insônia me desesperava. Hoje cheguei a conclusão de que noites não tão bem dormidas podem ser aproveitadas de muitas formas. Uma muito últil (pelo menos para mim) é sonhar acordada, coisa que tão pouco nos permitimos nessa vida tão agitada que a maioria de nós leva. Sonhar acordada ao contrário do que pensam os pessistas, os "sérios" e os chatos em geral, é uma maneira mais colorida de fazer planos. E para quem gosta de viver fazer planos é como um sopro de oxigênio. Pois é no primeiro momento da minha, digamos "insônia produtiva", os sonhos de olhos abertos me tomam de assalto, assim naturalmente. Desse mundo onírico muita coisa boa acaba saindo, até ver as coisas as de uma maneira mais saudável, os caminhos parecem mais abertos.

Outra forma muito interessante de aproveitar a falta de sono é pensar textos. Isso mesmo pensar em meus texto, que muitas vezes não são escritos por falta de tempo para simplesmente "parar" no meio do dia. À noite eles se impõem, meio que me dizendo "Você não nos dá atenção e agora vai ter que nos ouvir". As idéias vão se encadeando de uma maneira meio mágica, alguns diriam que é inspiração, eu acho que é simplesmente voltar a exercitar uma capacidade que sempre foi cotidiana e que com o tempo e a mudança de hábitos deixou de ser. Escrever é exercício. Quando a idéia é muito boa, e olha que para ser considerada assim ela tem que se esforçar e me provar, acabo saindo da cama e escrevendo do velho modo: caneta e papel. Muitos rabiscos depois volto para a cama e volto a dormir, quase sempre. é como se o cérebro estivesse numa fase de tanta atividade que acabasse por me impor os textos. Não posso reclamar.

Alguém deve se perguntar: "Como ela sobrevive sem dormir" . Vale esclarecer que sempre me deitei tarde e agora de uns meses até hoje venho deitando muiiiito cedo, por volta de 10, 10 e meia da noite e isso me faz acordar lá pelas 2 ou 3 h. Ou seja quando o sono é interrompido já dormi 4 ou 5 horas de sono. Lá pelas 6h me levanto arrumo o café da manhã e o lanche do meu filho e o mando para a escola. Aí, volto para cama e, não raro, volto a dormir até 8 ou 8 e meia. No fim das contas quase sempre durmo mais de 6 horas, o que para mim tem sido mais que suficiente. Afinal quando passamos dos 40 anos, dizem, nosso corpo precisa de menos horas de sono para se reestabelecer.

Acho que até lidar bem com a falta de sono tem sido uma maneira mais madura de ver a vida. Por hoje, é só...



escrito por João Ana Paula Motta 31-07-2008 16:49
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Constelação


Walnize Carvalho

A mulher chega ao quarto.
Sobre a imensa cama, lençóis azuis, cor de anil.
Sobre a pele clara, vestes brancas. Transparentes. Sobre o móvel o livro “Estrela solitária”- a vida de Garrincha.
Relaxa o corpo, mente e coração. Alonga pernas e braços.
Das janelas abertas, um brisa suave atravessa o quarto.
A primeira estrela aparece no céu e vem espiá-la.
Cerra os ollhos.

E pensa: Há estrelas em toda parte: na pipa ao vento, nos brincos da moça, no brinquedo do menino, na camisa do time, no olhar do apaixonado, no brasão da bandeira, no champagne, na taça, na vela perfumada, no poema de Bilac, na música do Sílvio Caldas e mais... e mais...
Abre os olhos.
No céu, outras tantas estrelas já estão a fazer companhia àquela primeira.
E olhando no imenso espelho do seu quarto seu corpo em cinco pontas-cabeça, braços e pernas alongados – traje branco, lençol azul se vê a estrela do céu do seu mundo à parte.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Não mais




Walnize Carvalho

Não mais
sonhar o impossível
sofrer o previsível

Não mais
aceitar firulas
ler intermináveis bulas

Não mais
decifrar manuais
querer tempos que não voltam mais

Não mais
achar que “beleza põe mesa”
ser indiferente à Natureza

Não mais
contracenar com amadores
que só valorizam suas dores

Não mais
preocupar com frivolidade
lamentar o correr da idade

Não mais
lutar por causas perdidas
futucar velhas feridas

Sim
mais e muito mais
saborear momentos felizes
traçar novas diretrizes
amadurecer com SABEDORIA
Pois é o bem de maior valia.