Walnize Carvalho
Nunca tive apelidos... Aliás, nem eu e nem minhas irmãs. Nossos nomes nasceram da junção de sílabas dos nomes de nossos pais.
Parece que respeitando o poeta (afinal, papai também escrevia sílabas metrificadas) a coisa assim se fez.
Escrevendo a palavra papai (que não é apelido), assim como mamãe, titia, mana, dindinha, vovó, bisa e outras que surgiram da linguagem das crianças, percebo que estas denominações afetivas incorporaram ao chamamento e, na maioria das vezes, substituem o próprio nome das pessoas.
Sei da história de um neto que ficou surpreso ao ouvir alguém da casa chamar sua avó pelo nome e contestou: - Vovó é vovó, não é Maria!...
Como também ouvi (não me contaram) uma esposa chamar o marido de pai e este chamá-la de mãe deixando atônito um distraído senhor que não captou o código do casal.
Contando um pouco de mim, até que já ensaiaram chamar-me de Wal (não vingou) e fui “Marta Rocha” em criança pela semelhança da cor dos olhos (título que ser perdeu no tempo).
Não me frustro de não ter apelidos, uma vez que tenho mãe, irmãs, madrinha, afilhados, filhos e netas que de tanto mencioná-los já me premiam com a alcunha de coruja.
Pensando bem, apelidos são formas de demonstrar carinho mas também, quase em sua maioria, traduzem um jeito jocoso de desqualificar o outro.
Na verdade, o que me preenche e até adoto como sobrenome é ser referência para o próximo.
Ser chamada de amiga (quando você se empenha por merecer); ser considerada um ser especial; estar tatuada no coração do outro... é bom demais!
Imagina alguém confessar: - Gosto de lhe preservar. Ou então: - Você é uma espécie em extinção. Ou num arroubo dizer-lhe: - Você é uma reserva moral! Chique, não é?!
Pode parecer chinfrim, mas ouvir ao telefone uma amiga confessar: “Você é como o sol: não aparece todos os dias, mas eu sei que ele existe”. Você se acha, no mínimo, uma superstar!
E que tal encontrar na rua com uma velha conhecida e ela lhe saudar: - Menina, como está sumida! Este “menina” faz você ganhar o dia ou, quem sabe, anos de vida.
Há, é claro, alguns exageros. Exemplo típico vem de algumas atendentes de telemarketing que adoram nos chamar de “querida”. Argh!
Quer elogio mais animador (?!?) alguém chamá-la de “fofinha” quando na verdade seu manequim já está na casa dos 46?
O certo é que gestos de ternura valem mais do que qualquer honraria ou título.
E quando bem empregados atuam como um cafuné na alma.
2 comentários:
Realmente,lembranças afetivas. Fofinha é irritante e menina é adorável. Aqui em casa também me chamam pelo nome completo e me surpreendia no início quando os amigos me tratavam por Ana ou Aninha e outros por Paula (que eu adorava).Hoje sou cada vez mais Aninha e menos Paula. Depois te conto porque sinto-me menos Paula rs.
Eu a chamo AmigAna...
Postar um comentário