sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cumplicidade



Walnize Carvalho

É um período de diários encontros.É tempo de férias.
E assim... ao cair da tarde, o prazeroso ritual se repete: Três grandes amigas passam juntas, horas agradáveis.Duas delas, se dirigem à casa da terceira, que ao pressentir a chegada das primeiras, logo avisa com voz de alegria e ansiedade: - Arrumem as cadeiras da varanda...E - enfatiza - ... no lado da fresca, que já estou indo!
Minutos depois a dona da casa aparece trazendo nos braços e mãos (quanta habilidade!) variadas guloseimas, (potes de biscoitinhos sortidos, bolo de aipim, broas de milho e até doce de jenipapo!) para o lanche da tarde.Ajeita-os sobre a mesa e retorna com líquidos variados (leite, suco de caju e café coado na hora). Tudo por ela organizado é hora da saudação às “visitas” que é feita de abraços e beijos fraternos.Quem assiste de fora (caso passe alguém pela rua) pensa que se trata de reencontro de pessoas queridas, que de há muito não se vêem.Ledo engano!A afetividade é repetida diuturnamente.
Regado a tudo isso, a conversa que rola solta e descontraída. Trocam experiências, fazem confidências. Falam de assuntos domésticos, do tempo, de novela, de moda, dos modos, das novidades, dos acontecimentos, de culinária, da vida vivida, de fatos que a memória insiste em lembrar, dos filhos, dos netos e...dos netos!
E como entre elas, há o pacto legitimado pelas alianças do sangue, toda a “troca de ideias” é cercada de autenticidade e sinceridade. Há um forte comprometimento com as marcas da origem (a criação que tiveram, os valores adquiridos...) fazendo com que o eixo central do bate papo seja a família.
Dia desses uma delas se lembrou da frase primorosa da escritora Rachel de Queiroz: ”Famílias, a Natureza as faz, mas a gente as arruma ou organiza”, o que fez rolar uma lágrima furtiva dos olhos da outra, denotando melancolia.Silêncio.A terceira, quebrando o clima saiu-se com essa: -Tem gente aí que prometeu parar de pintar os cabelos aos cinquenta...e já está a caminho dos sessenta e até agora nada!...
Gargalhada geral!
E tem sido assim: Uma fala, outra escuta e mais outra retruca... E porque não há compromisso com o correr das horas, afinal - férias são férias - debruçam-se em lembranças felizes, que vão desde a infância ,em que dormiam cada uma em sua caminha . Assim, recorda uma delas, que a mãe as abençoava e saía do quarto, tratavam de juntá-las, para que a mais velha das três contasse historinhas...
Em seguida, aportam na juventude e em meio a risos nervosos falam dos bailes no Clube, bailes estes acompanhados dos pais .Uma delas se lembra de que quando o pai se postava de pé era a senha: hora de ir embora.E ela, pensando ganhar mais alguns minutos se escondia no vestiário! Que ilusão!...
Anoitece. Todas se lembram que é hora de retornarem aos seus hábitos individuais. Despedem-se. Duas seguem para suas respectivas casas. A que fica chega ao portão e grita:- Amanhã à tarde,tem doce de carambola com queijo da roça!...
(dedico esta crônica às queridas irmãs –Zedir e Zalnir - que neste fevereiro(21) e (25) respectivamente, aniversariam.)

2 comentários:

Ana Paula Motta disse...

Lindo texto, acima de tudo terno.

walnize carvalho disse...

è Aninha, Dividimos com irmãs o que muitas vezes ocultamos dos nossos pais...