sexta-feira, 30 de março de 2012

A solitária arte de comunicação

A solitária arte de se comunicar

Walnize Carvalho

Tarde de domingo.
Trancada em meu quarto leio atentamente no jornal a matéria sobre uma pesquisa que enfoca a vasta e inédita correspondência entre o sociólogo Gilberto Freyre e o escritor José Lins do Rego. Já em outra página chama-me a atenção a publicação de um livro em que estão reunidas cartas do grande escritor brasileiro Machado de Assis quando... Toc!Toc! Toc! As batidas na porta interrompem minha leitura.
A neta, que acabara de chegar, comunica que irá usar o computador. Tento segurá-la um pouco e puxando conversa pergunto-lhe: - Não vai ao cinema, nem ao shopping? E ela: - Vou no MSN! E eu, demonstrando conhecimento: - Vai bater papo com as amigas? – Sim, vó! – responde-me. E eu, demonstrando interesse no mundo virtual, recebo dela uma enxurrada de informações: MSN, Orkut, Skype, WebCam – as mais variadas formas de comunicação.
A adolescente sai deixando a porta entreaberta o que dá para que eu ouça o Plim do seu celular e, em seguida... Tec! Tec! Tec! Sinalizando que acabara de receber um torpedo e está retribuindo.
E retornando à internet leva um bom tempo (talvez hora e meia) conectando “seus amigos em comum e comunidades”.
E não sei se é por causa das matérias sobre correspondências, ou se é pelo  Outono (tida como estação melancólica) sou invadida pelos meus “ismos”: saudosismo e romantismo (e olha que já nutro até certa simpatia e amizade pelo meu computador).
Mas... lembro-me do hábito salutar de escrever e responder cartas. A ida aos Correios. Selo. Cola. E depois... A espera do carteiro. O abrir apressado do envelope e o reconhecimento da autoria através da letra desenhada.
Recordo-me do relato dos mais saudosistas sobre cartas em papel cor de rosa ou em folhas de seda. Muitas com leve fragrância de perfume, algumas com pétalas de rosa e até as que traziam marcas indeléveis de batom (vermelho carmim) impregnadas de paixão.  Todo um ritual de comunhão e sutileza.
Anoitece.
Pela fresta da porta a luz azulada da tela do computador reflete o rosto da menina.
Eu – a meu canto – encerro o domingo assistindo em DVD  “O Carteiro e o Poeta”.

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