sexta-feira, 1 de julho de 2011

Eu não sei pra que que a gente cresce


Walnize Carvalho

Amanheci com estes versos de Ataulfo Alves batucando na cabeça.
E fiquei horas cantarolando porque gosto de “Meus tempos de criança” e também para contrapor ao som do bate-estaca que vinha de uma obra em frente à rua onde moro.
E de tanto repetir me dei conta de que o lamento de crescer é de perder a ingenuidade. E dia após dia, ela – a ingenuidade – nos é tirada.
Num giro de memória chego ao mês de julho de infâncias distantes. Era sinônimo de férias, descompromisso e encerramento de um ciclo. Hoje o tempo é um menino travesso que corre atrás de nós a nos alcançar os calcanhares sem, ao menos, nos dar a chance de pedir “mandrake”.
Quem diria que transformariam os heróis em quadrinhos Mônica e Cebolinha em adolescentes e matariam o Batman?
Somos a todo momento lembrados de nossas obrigações. As siglas IPTU, IPVA, IR, PIB, NET estouram aos nossos olhos brilhando mais do que os POW... POW dos fogos de artifício de festas juninas
Sinceramente, como esquecer a antiga delicadeza dos encontros fraternos, da troca espontânea de presentes tão contrastantes à atual comercialização de afetos, dissimulação de simpatias e a ânsia das pessoas que se obrigam a ser felizes a qualquer preço?...
Neste ping-pong entre passado e presente, por certo, vários paralelos seriam lembrados que, fatalmente, não caberiam neste espaço.
Prefiro estancar as lembranças ao mesmo tempo em que sou absorvida pelo silêncio da rua.
Olho pela janela e vejo que as máquinas silenciaram. Os operários interromperam a obra e fazem sua sesta.
Volto a mim mesma e encerro esta crônica – nostálgica, irônica e saudosista – com outro trecho da canção que diz: “Eu era feliz e não sabia..."

Um comentário:

Rosana C. disse...

Que saudade dos pipas e quermesses do meu tempo...muito bom seu texto.