Walnize Carvalho
Na varanda sentada em sua cadeira de balanço, a velha senhora observa a planície.
Vê por entre os verdes canaviais alguns filhos seus com foice e enxada em mais uma labuta diária. E, suspirando, balbucia: - Estes são o meu orgulho!
Fechando os olhos visualiza outros tantos que como aqueles madrugam em busca do pão do dia-a-dia.
A prole é imensa: vai de operários a doutores.
Sabe quantos têm por ela respeito e consideração. Mas... enxugando as lágrimas reconhece que há os que se perderam no caminho e a fazem sofrer.
Lembra que em tempos idos ela – esta agora mãe sofrida – era reconhecida pelos seus valores e tradições merecendo o título honroso de “Espelho do Brasil”.
Recorda também com saudade de ter sido chamada de “Intrépida Amazona”, de “Terra do Açúcar” e porque não da goiabada dado o perfume que exalava das entranhas de suas usinas e fábricas.
Mesmo amargurada sabe que ainda há muitos que desejam vê-la soerguida. Almejam que se levante da cadeira e saia do estado de prostração em que se encontra.
Pois, não foram poucos os filhos que a cantaram em prosa e verso.
Não foram poucos os filhos que levaram o seu nome para rincões distantes...
Um breve cochilo a faz sonhar.
Tem a nítida impressão de ouvir o apito da Fábrica de Tecidos; o movimento de entra e sai de “suas crianças”.
Parece ver o alarido de seus meninos descendo as pontes pedalando suas bicicletas - verdadeira revoada de pássaros.
Desperta.
Volta o olhar sobre o horizonte.
Nova onda de nostalgia a invade e se pergunta: - O que fez com que alguns de seus filhos se tornassem irreconhecíveis, verdadeiros vilões? E se responde com certa culpa (as mães sempre se acham com culpa): - Seria a fortuna adquirida e a ânsia de querer mais?...
Levanta-se da cadeira de balanço.
Caminha para o quarto. Deposita sobre a cômoda o terço que trazia em suas mão
E como “coração de mãe não se engana” tem esperança de que os filhos desgovernados retomem o caminho da retidão e devolvam-lhe a dignidade e honradez.
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