sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Uma senhora chamada Cidade



Walnize Carvalho

Na varanda sentada em sua cadeira de balanço, a velha senhora observa a planície.
Vê por entre os verdes canaviais alguns filhos seus com foice e enxada em mais uma labuta diária. E, suspirando, balbucia: - Estes são o meu orgulho!
Fechando os olhos visualiza outros tantos que como aqueles madrugam em busca do pão do dia-a-dia.
A prole é imensa: vai de operários a doutores.
Sabe quantos têm por ela respeito e consideração. Mas... enxugando as lágrimas reconhece que há os que se perderam no caminho e a fazem sofrer.
Lembra que em tempos idos ela – esta agora mãe sofrida – era reconhecida pelos seus valores e tradições merecendo o título honroso de “Espelho do Brasil”.
Recorda também com saudade de ter sido chamada de “Intrépida Amazona”, de “Terra do Açúcar” e porque não da goiabada dado o perfume que exalava das entranhas de suas usinas e fábricas.
Mesmo amargurada sabe que ainda há muitos que desejam vê-la soerguida. Almejam que se levante da cadeira e saia do estado de prostração em que se encontra.
Pois, não foram poucos os filhos que a cantaram em prosa e verso.
Não foram poucos os filhos que levaram o seu nome para rincões distantes...
Um breve cochilo a faz sonhar.
Tem a nítida impressão de ouvir o apito da Fábrica de Tecidos; o movimento de entra e sai de “suas crianças”.
Parece ver o alarido de seus meninos descendo as pontes pedalando suas bicicletas - verdadeira revoada de pássaros.
Desperta.
Volta o olhar sobre o horizonte.
Nova onda de nostalgia a invade e se pergunta: - O que fez com que alguns de seus filhos se tornassem irreconhecíveis, verdadeiros vilões? E se responde com certa culpa (as mães sempre se acham com culpa): - Seria a fortuna adquirida e a ânsia de querer mais?...
Levanta-se da cadeira de balanço.
Caminha para o quarto. Deposita sobre a cômoda o terço que trazia em suas mão
E como “coração de mãe não se engana” tem esperança de que os filhos desgovernados retomem o caminho da retidão e devolvam-lhe a dignidade e honradez.

sábado, 24 de setembro de 2011

Liberdade maior



Walnize Carvalho

Queria ser livre
Correr mundos
Viver!...
Até que um dia
(que dia!)
Uma ventania de fim de tarde
Satisfez
O seu desejo.
Que felicidade!
Nos braços do vento
Foi em busca
Da vida sonhada
Da viva
Somente vivida
Pelos passarinhos
Que vinham pousar na árvore em que morava.

E
Lá se foi ela.
Feliz
Correu quintais
Atravessou muros
Percorreu quintais...

Até que...
Um vento maroto
A fez cair
No rio que cortava a cidade.
Levada pelas águas
Se foi para
um mundo
liberto
um mundo
distante
pra não mais voltar..

-Esta é a história de uma folhinha que um dia se foi da árvore do meu quintal.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Alívio




Walnize Carvalho

Chegara apressada a casa.
Mal tivera tempo de abrir a porta e...calçados pro ar!
Correra em busca de algo que para ela seria de extrema necessidade.
Viera, há poucos minutos atrás, pela rua distraída e ansiosa . Nem vira a vizinha com seu “boa tarde”costumeiro.Trazia nas mãos, flores colhidas na calçada.
Chegara realmente apressada.
Estaria em busca de um copo d’agua para matar a sede, já que o sol forte da tarde de primavera com ares de verão ainda brilhava no céu?
Estaria à caça de um analgésico para uma eventual dor de cabeça, pois o dia de trabalho fora exaustivo?
Estaria necessitada de farta refeição,pois estivera tão atarefada que não tivera nem tempo de lanchar?
Não. Como uma criança travessa que sobe na cadeira em busca de guloseimas dentro do armário ela dirigiu-se à cozinha preparou um chá, ajeitou na bandeja, com biscoitinhos e uma jarra miúda onde colocou as flores.
Abriu o computador.Com a setinha (que para ela era mágica) clicou no site preferido.
Lá encontrou a poesia ,que bem sabia, iria aliviar a sua alma.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Freddie for a Day

Depois de muitos e muitos meses resolvi postar algo por aqui.
Freddie Mercury completaria no último dia 5 de setembro 65 anos. Entre as várias iniciativas para marcar a data está a disponibilização do antológico show em Wembley.
Freddie for a day

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Risos


Walnize carvalho

O sol amanheceu rindo pra ela. Lembrou-se de que, em criança, sempre ria...sorria ... dava gargalhadas.
Quando, com a prima, que vinha à cidade para as festividades do padroeiro se reunia riam,riam.
Contava piadas, ria. Contava histórias, ria. Adolescente, não mudou nada. Ria com as colegas, dos professores, de tudo que eles falavam. Ria ao telefone. Ria de si mesma Ria dos outros e para os outros .
Adulta, ela continuava rindo. Na escola, já então professora, fazia quadrinhas humorísticas, ao fim de cada ano letivo ofertava- as aos colegas e funcionários.
Ria,riam todos .
O tempo foi passando com riso ou pouco riso, os anos escoavam.
Um dia, uma amiga comentou: “Quem ri demais provoca ruga em volta dos olhos”. .Olhou-se no espelho. Lá estavam elas,as rugas .Achou injusto que as pessoas alegres envelhecessem rapidamente .
Continuou rindo e filosofando: “Minhas rugas em volta dos meus olhos são alegria”.Mas, de vez em quando , se flagrava no espelho, olhando aqueles sulcos na face .Começou a rir frente ao espelho.Frente a frente, num duelo com o inimigo. Até que teve uma certeza. Uma certeza da qual não achava graça. Aquele semblante enrugado não era marca comum da idade. Era sua tristeza - sua imensa tristeza - escondida de todos e de si mesma com tanto afinco e cuidado durante toda a vida, que agora começava a aflorar.