Folhas de Rosa
Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo …
E falo-lhes d’amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente…
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente …
Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m’embriaga
O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,
E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado…
Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mals fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia…
Florbela Espanca - Trocando olhares
4 comentários:
Florbela... trocando sentimentos por palavras...
Exatamente, uma capacidade extraordinária de fazer isso...
Florbela amou muito, de mais, mas nem sempre foi feliz no AMOR. Havia algo que faltava. Creio que a entrega dos seus amados não fosse total ou não correspondesse à desejada.
Ela queria, como todas as mulheres, ser a única e a mais amada de todas as mulheres. Daí evovar pequenos e ternos momentos de AMOR como o da rosa banca que o seu amado lhe deu.
Tal como você, Ana Paula, adoro Florbela Espanca. A sua, aminha e a dela são almas parecidas...
Beijos
Pois é, gostaria de ter uma alma menos sensível...
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