quarta-feira, 8 de julho de 2009

A dor, a flor, Florbela...


Minha boca fala através da dela, poema de Florbela...

Folhas de Rosa

Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo …


E falo-lhes d’amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente…
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente …


Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m’embriaga


O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,


E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado…


Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mals fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia…


Florbela Espanca - Trocando olhares

4 comentários:

mariabesuga disse...

Florbela... trocando sentimentos por palavras...

Ana Paula Motta disse...

Exatamente, uma capacidade extraordinária de fazer isso...

Natália Augusto disse...

Florbela amou muito, de mais, mas nem sempre foi feliz no AMOR. Havia algo que faltava. Creio que a entrega dos seus amados não fosse total ou não correspondesse à desejada.
Ela queria, como todas as mulheres, ser a única e a mais amada de todas as mulheres. Daí evovar pequenos e ternos momentos de AMOR como o da rosa banca que o seu amado lhe deu.

Tal como você, Ana Paula, adoro Florbela Espanca. A sua, aminha e a dela são almas parecidas...

Beijos

Ana Paula Motta disse...

Pois é, gostaria de ter uma alma menos sensível...